por: julio barbaroto. s2

agradeço pelo pão
e pelos ovos fermento farinha água e leite que todos esquecem de lembrar
porque não importa o caminho utilizado
dois mais dois sempre fazem quatro
aliás
agradeço pelos números
que debochantes derrubam os exaltados
que fazem dos ricos ricos e dos pobres escravos
por esse clichê e ainda pelos escravos
durante os séculos e séculos explorados
e sobretudo pelo eficiente sufocamento de suas rebeliões
e pelos direitos trabalhistas que surgiram só muito depois
e ainda por eu ter surgido depois dos direitos trabalhistas

agradeço por todas as vezes em que quis chamar a atenção e não fui enxergado
por todas as vezes em que tentei ser discreto e por isso fui notado
e ainda por em nenhuma dessas vezes ter atingido o objetivo desejado
por ser sempre surpreendido
por não saber reagir
por aprender a reagir a uma situação
da qual eu nunca mais vou ser cobrado
por esboçar planos para o futuro
e viver os dias sempre da mesma forma
por viver e morrer abaixo da média
por ser um bom esboçador e mau executador
por reclamar e não fazer
por poder discutir e sustentar opiniões
com as quais nem mesmo concordo
por não concordar com nada e muito menos discordar
e por todas as verdades
já que todas elas soam como mentiras
por todas as mentiras
que invariavelmente soam mentiras
e pelo leitor que se surpreende pelo simples fato
de eu não ter simplesmente reeditado a poesia
que deveria fazer parte de algum livro que nem foi publicado
pelo bom poeta que deve ter existido
e pelos papéis por ele rasgados
pelas boas ideias que ficaram no lixo
e também pelas boas ideias eternamente recicladas

agradeço pelas várias linhas que podia ter escrito e não escrevi
e pelas linhas áreas que ligam os extremos do país
agradeço pela minha mãe meu pai e meu irmão
e deus e jesus cristo
que seja feita a vossa vontade
a minha eu já perdi faz tempo